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Brasil tem potencial para reduzir em 36% emissão de metano até 2030 e não 30%, aponta Observatório do Clima

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País se comprometeu com meta de 30%, mas, segundo estudo, pode baixar mais as emissões se ampliar políticas nos setores de agricultura e energia e de combate ao desmatamento.

Um estudo do Observatório do Clima, rede que reúne 77 organizações da sociedade civil, indica que o Brasil ainda pode reduzir suas emissões de metano em 36% até 2030 se ampliar políticas públicas e medidas ambientais nos setores de agricultura, energia e saneamento e de combate ao desmatamento.

A meta é maior que o índice de 30% que o Brasil e cerca de cem países se comprometeram a reduzir durante a COP26, a Conferência de Clima da ONU de 2021.

A publicação inédita, divulgada nesta segunda-feira (17), leva em conta as emissões de 2020 do gás, um dos maiores responsáveis pelo aumento das temperaturas globais.

Naquele ano, segundo a estimativa do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), levantamento feito com base em dados oficiais do Ministério da Ciência, entre outros órgãos, o país lançou na atmosfera 20,2 milhões de toneladas de metano, o CH₄.

O índice torna o Brasil o quinto maior emissor mundial do gás, com 5,5% das emissões globais. Num período de cem anos, o metano é responsável por esquentar o planeta cerca 28 vezes mais do que uma molécula de dióxido de carbono (CO2), o principal gás responsável pelo efeito estufa.

Por isso, reduzir a emissão desse gás é importante para limitar o aquecimento global a 1,5ºC neste século.

De acordo com os cálculos do relatório, para que o Brasil reduza suas emissões de metano em 36%, políticas públicas existentes devem ser ampliadas. 

A meta é ambiciosa, porém, pois os números recentes do desmatamento, por exemplo, apontam para um caminho desafiador para o nosso país nos próximos anos.

Durante o governo Jair Bolsonaro, o Brasil vem batendo recordes nos níveis de desmate e queimadas. Segundo o Imazon, a área de floresta desmatada da Amazônia Legal em 2022 foi a maior dos últimos 15 anos. Dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) também apontam que os alertas de desmate na Amazônia tiveram o pior setembro da série histórica neste ano. Junto com isso, o desmatamento também subiu mesmo em unidades de conservação do bioma nos últimos anos.

O relatório do SEEG estima que, em 2030, o país pode emitir 7% a mais de metano que em 2020 se as atuais políticas de controle de emissões forem mantidas.

"Esse trabalho que estamos publicando hoje prova, porém, que é possível o Brasil entregar o que foi prometido e assinado em Glasgow e ainda fazer mais do que isso, empregando tecnologia e técnicas novas, principalmente para a agricultura", afirma o ambientalista Marcio Astrini, secretário-executivo do OC.

"Nós conhecemos o governo que a gente tem e não vamos ficar esperando. Por isso, lançamos esse estudo. Ele prova que o Brasil tem um potencial muito grande na agenda de clima. Nós somos um país imenso nessa agenda, mas, infelizmente, com um governo minúsculo", acrescentou.

Medidas

Para chegar no patamar dos 36%, o relatório do SEEG sugere algumas medidas, como zerar o desmatamento com indícios de ilegalidade (um compromisso do Brasil na COP26), erradicar lixões e incorporar uma gestão sustentável de resíduos sólidos, reaproveitando o biogás gerado em aterros sanitários e estações de tratamento.

No caso da agropecuária, o relatório recomenda o tratamento dos dejetos animais, a eliminação da queima da palha da cana — que libera gases poluentes, incluindo o metano —, o melhoramento genético do rebanho bovino e a chamada terminação intensiva, como é conhecido o abate precoce com engorda acelerada dos animais.

Como mostrou o g1, tecnologias como uma ração especial com aditivos também podem ajudar a agropecuária a poluir menos.

“O que chama atenção nas políticas e medidas mapeadas nesse estudo é que todas elas trazem ganho econômico. São iniciativas que o poder público ou os produtores rurais, no caso da agropecuária, já deveriam estar fazendo em grande escala, porque se tratam de práticas já conhecidas e utilizadas”, diz Tasso Azevedo, coordenador técnico do SEEG.

“Agora temos, pela primeira vez, um mapa do caminho para a aplicação dessas práticas e mostramos que o Brasil pode ser ainda mais ambicioso do que o compromisso global e ganhar dinheiro com isso", acrescenta o pesquisador.

Metas ambientais e tecnologia no agro

O SEEG estima ainda que quase metade do aumento da temperatura global observado hoje se deva às emissões desse metano.

E uma das principais causadoras disso é a agropecuária. O “arroto do boi” (as chamadas emissões da fermentação entérica) respondem por cerca de 72% da 20,2 milhões de toneladas emitidas pelo Brasil em 2020, segundo os cálculos da rede.

Em segundo lugar, vem o setor de resíduos, com 16% ou cerca 3,17 milhões de toneladas associadas à disposição final de lixo e do esgoto, já que o CH₄ é produzido pela decomposição da matéria orgânica.

Como resultado do desmatamento, segundo os cálculos do SEEG, a fumaça da queima das árvores que abre espaço para pastos e lavouras responde por 9% das emissões brasileiras, ou 2,7 milhões de toneladas de metano (veja gráfico abaixo).

 

 

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